segunda-feira, 24 de setembro de 2012


O Bom Português

O Bom Português tira suas dúvidas
Não viu qualquer 
ou
nenhum risco?
Depois de negativas, emprega-se nenhum: Não viu nenhum risco. Ninguém lhe fez nenhum reparo. Nunca promoveu nenhuma confusão. 
(Em português, ocorre frequentemente a dupla negativa; em linguagem formal, no entanto, deve-se evitar o coloquialismo que consiste em repetir o não:
 Não fiz isso não.)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

]
A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.



sexta-feira, 24 de agosto de 2012


PROCURA-SE UM AMIGO
Vinícius de Morais

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos. Que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

As propostas para redação sugeridas aos alunos do Instituto de Ensino Intellectus, 3º Ano e Pré-vestibular,  Laboratório de Redação Professora Graças Brito, são fornecidas pelo banco de dados do Sistema Ari de Sá.PROPOSTA DE REDAÇÃO 06

terça-feira, 17 de abril de 2012

Questões comentadas



Texto para as questões 1 e 2 (adaptado)

1          Poucos depoimentos eu tenho lido mais emocionantes que o artigo-reportagem de Oscar Niemeyer sobre sua experiência em Brasília. Para quem conhece apenas o arquiteto, o artigo poderá passar por uma defesa em causa própria , o revide normal de um pai que sai de sua mansidão costumeira para ir brigar por um filho em quem querem bater. Mas, para quem conhece o homem, o artigo assume proporções dramáticas. Pois Oscar é não só o avesso do causídico, como um dos seres mais antiautopromocionais que já conheci em minha vida.
8          Sua modéstia não é, como de comum, uma forma infame de vaidade. Ela não tem nada a ver com o conhecimento realista ? que Oscar tem ? de seu valor profissional e de suas possibilidades. É a modéstia dos criadores verdadeiramente integrados com a vida, dos que sabem que não há tempo a perder, é preciso construir a beleza e a felicidade no mundo, por isso mesmo que, no indivíduo, é tudo tão frágil e precário.
14        Oscar não acredita em Papai do Céu, nem que estará um dia construindo brasílias angélicas nas verdes pastagens do Paraíso. Põe ele, como um verdadeiro homem, a felicidade do seu semelhante no aproveitamento das pastagens verdes da Terra; no exemplo do trabalho para o bem comum e na criação de condições urbanas e rurais, em estreita intercorrência, que estimulem e desenvolvam este nobre fim: fazer o homem feliz dentro do curto prazo que lhe foi dado para viver.
20        Eu acredito também nisso, e quando vejo aquilo em que creio refletido num depoimento como o de Oscar Niemeyer, velho e querido amigo, como não me emocionar?
                                        Vinicius de Moraes. Para viver um grande amo
                                        RJ: J. Olympio, 1982, p. 134-5 (com adaptações)
                                                      
Questão 1

Julgue (C ou E) os itens a seguir, relativos às estruturas linguísticas do texto.

1 ( ) Ao empregar as expressões “Papai do Céu” (L.14) e “verdes pastagens do Paraíso” (L.15), o autor do texto demonstra neutralidade em relação ao universo de crenças que elas representam.
2 ( )  emprego de adjetivos no grau superlativo absoluto, como “mais emocionantes” (L.1), “mais antiautopromocionais” (L.6), “tão frágil e precário” (L.12, 13), produz o efeito de exaltação da superioridade dos atributos técnico e criativo de Oscar Niemeyer em relação a outros brasileiros notáveis.
3 ( ) O uso da expressão “mais antiautopromocionais” indica a opção do autor do texto por forma prolixa, dada a presença de dois prefixos no vocábulo adjetivo, em detrimento da concisão que seria proporcionada pela escolha da forma equivalente menos autopromocional, a qual manteria o efeito retórico desejado.
4 ( ) No texto, a linguagem foi empregada predominantemente em suas funções emotiva e poética.

1- E. “Papai do Céu” faz referência a um deus masculino, próprio da cultura judaico-cristã, e “verdes pastagens do Paraíso” é uma expressão que, com tal descrição, remete também a um local crido principalmente pelos cristãos, dessa maneira percebemos que não há uma neutralidade em relação ao universo de crenças que essas expressões representam.
2- E. As duas primeiras estruturas são próprias do grau “comparativo “de superioridade; a terceira, de igualdade.
3- E. Diferente do que diz o comentário da alternativa, haverá patente mudança de sentido, pois a relação de intensidade estabelecida pelos advérbios de intensidade “mais” e “menos” é outra, além disso, o prefixo “anti” modifica o sentido do vocábulo “autopromocionais”, o que não ocorre na tal forma equivalente proposta pela banca.
4- C. A função emotiva é marcada pelos verbos e pronomes de 1ª pessoa do singular/plural, e isto ocorre nestas passagens: “Poucos depoimentos eu tenho lido.../ ... que já conheci em minha vida/ Eu acredito também nisso, e quando vejo aquilo em que creio refletido num depoimento como o de Oscar Niemeyer, velho e querido amigo, como não me emocionar?”; a função poética está centrada na maneira como o discurso é construído, principalmente recheado de recursos estilísticos (... o artigo poderá passar por uma defesa em causa própria / o revide normal de um pai que sai de sua mansidão costumeira para ir brigar por um filho em quem querem bater./... Oscar é não só o avesso do causídico/ Oscar não acredita em Papai do Céu, nem que estará um dia construindo brasílias angélicas nas verdes pastagens do Paraíso)   

Questão 2

Acerca dos mecanismos de coesão empregados no texto, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
1 ( ) A elipse em “nem que estará” (L.14) e o emprego do pronome anafórico “ele” (L.15) são mecanismos de coesão utilizados para referenciar o substantivo “Oscar” (L.14).
2 ( ) Na linha 3, o vocábulo “arquiteto” retoma por substituição o nome próprio “Oscar Niemeyer”, empregado na linha 2, mecanismo que corresponde a uma variedade de metonímia e por meio do qual se evita a repetição de vocábulo.
3 ( ) O período que finaliza o primeiro parágrafo está na ordem inversa, como indica o emprego inicial da conjunção “Pois”, que introduz uma oração subordinada anteposta à oração principal.
4 ( ) Dada a propriedade que assume o pronome”este” nos mecanismos coesivos empregados no trecho “que estimulem e desenvolvam este nobre fim” (L.18), não é facultada a seguinte reescrita: que estimulem este nobre fim e o desenvolvam.

1- C. A elipse do sujeito (sujeito oculto) do verbo “estará”é facilmente percebida, pois logo na oração anterior o sujeito Oscar está explícito; não há outro elemento a ser retomado senão Oscar, que vem antes do seu substituto “ele”.
2- E. Não ocorre metonímia, mas sim hiperonímia. A palavra arquiteto tem um sentido abrangente, que engloba o (arquiteto) Oscar Niemeyer, portanto é um hiperônimo, não uma metonímia, em que se substitui a parte pelo todo (ou vice-versa).
3- E. Não há inversão sintática dos termos, pois o sujeito explícito vem antes do verbo de ligação, que, por sua vez, vem antes do seu predicativo; além disso, o conectivo “pois” é uma conjunção coordenativa explicativa, não estabelecendo relação alguma de causa, tampouco de subordinação, senão coordenação.
4- C. A reescrita é desnecessária, pois o “este”, como parte do complemento de ambos os verbos do trecho, e de valor catafórico, dispensa o uso de outro pronome (o oblíquo átono “o” como complemento de um dos verbos do trecho. Vinicius de Moraes primou pela concisão adequadamente.

Texto para a questão 3 (adaptada)

CARTA PARA ANTONIO CARLOS JOBIM
Porto do Havre [França], 7 de setembro de 1964

Tomzinho querido,

1          Estou aqui num quarto de hotel que dá para uma praça que dá para toda a solidão do mundo. São dez horas da noite e não se vê viv?alma. Meu navio só sai amanhã à tarde, e é impossível alguém estar mais triste do que eu. E, como sempre nestas horas, escrevo para você cartas que nunca mando.
5          Deixei Paris para trás com a saudade de um ano de amor, e pela frente tenho o Brasil, que é uma paixão permanente em minha vida de constante exilado. A coisa ruim é que hoje é 7 de setembro, a data nacional, e eu sei que em nossa embaixada há uma festa que me cairia muito bem, com o Baden Powell mandando brasa no violão. Há pouco telefonei para lá, para cumprimentar o embaixador, e veio todo mundo ao telefone.
11        Você já passou um 7 de setembro, Tomzinho, sozinho, num porto estrangeiro, numa noite sem qualquer perspectiva? É fogo, maestro!

Vinicius de Moraes. Querido poeta. São Paulo: Companhia das
Letras, 2003, organização de Ruy Castro, p. 303-4 (com adaptações).

Julgue (C ou E) os itens seguintes, relativos às ideias do texto acima.

1 ( ) Pelo emprego da expressão “todo mundo” (L.9), pressupõe-se que, além do embaixador, outros amigos e colegas de trabalho de Vinicius de Moraes, sem que se possa saber quantos, telefonaram-lhe do Brasil.
2 ( ) Infere-se da carta de Vinicius de Moraes a Antonio Carlos Jobim que o poeta brasileiro, também diplomata, estava em missão profissional na cidade do Havre por ocasião de uma data nacional brasileira, embora manifestasse preferência por estar em outro lugar.
3 ( ) Na carta a Antonio Carlos Jobim, a menção a correspondências que nunca eram enviadas sugere que havia temas confidenciais que só poderiam ser tratados pelo remetente e pelo destinatário da carta de 7 de setembro de 1964 em encontro pessoal.
4 ( ) O emprego, no texto, das expressões coloquiais “cairia muito bem” (L.8) e “mandando brasa” (L.8) indica a informalidade com que Vinicius de Moraes escreve a seu destinatário.

1- E. Vinicius de Moraes faz a ligação para o embaixador e não o contrário, logo “todo mundo” se refere a pessoas que falaram com o poeta, após este ter ligado para o Brasil.
2- E. Não há nenhum vestígio no texto que sugira alguma missão profissional, tampouco que ele estivesse na cidade do Havre devido à data de 7 de setembro.
3- E. Não podemos extrapolar a leitura do texto, como se pudéssemos adivinhar o porquê das cartas não enviadas, portanto seria um disparate dizer que tais cartas continham temas confidenciais.
4- C. As expressões coloquiais estão adequadas à situação comunicativa, pois ambos eram queridos amigos, logo não havia motivo de formalidade no registro escrito.  

Aquele abraço!

Fonte

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Variações Linguísticas


Existem três tipos de variações linguísticas: diatópicas, diafásicas e diastráticas. Alguns autores incluem a variação diacrônica.

A variação diatópica é a variação regional. É uma mesma língua sendo falada de forma diferente dependendo da localidade.

A variação diafásica é a variação que ocorre em situações de fala. A mesma pessoa muda a sua maneira de falar dependendo do ambiente (formal ou informal).

A variação diastrática ocorre nos grupos sociais, nas comunidades. Por exemplo: os advogados, os surfistas, os religiosos, os professores, etc.

A variação diacrônica ocorre através do tempo. São as pessoas do mesmo grupo social ou da mesma região mudando a maneira de falar com o decorrer dos anos.

Entender as variações linguísticas é importante porque mostra às pessoas que elas não devem ser preconceituosas quando ouvirem alguém falar diferente.




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