terça-feira, 28 de setembro de 2010

Linguagem.Figuras de Linguagem


Linguagem. Figuras de Linguagem

Sem dúvida desde que nascemos, estamos mergulhados no mundo da linguagem. Da fala, da língua pertencente ao meio em que vivemos. Crescemos dentro da nossa família ouvindo - na maioria das vezes - nossos pais a falarem conosco, além de gestos e sinais, através da  fala, das palavras. Nosso pensamento, a forma de entendermos as coisas, o mundo, começa, então, a ter por primordial, as palavras, a linguagem, o nome das coisas existentes no mundo. Construímos na consciência, uma espécie de "biblioteca" onde depositamos tudo o que é ouvido e entendido. Guardamos idéias, significados, palavras e com essa "base de dados" nos expressamos verbalmente pela fala. É como se selecionássemos - pegando na prateleira da biblioteca - palavra por palavra, criando estruturas de entendimento para a comunicação.
                                                                                                                                                                                                                                                         Luciana Arruda
Veja:

minimoajuste.blogspot.com

Poema só para Jaime Ovalle

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

Manuel Bandeira

Manuel Bandeira, poeta maior, escreveu um texto chamado "Poema só para Jayme Ovalle". Para um poema cujo tema é essencialmente a solidão, o título é intencionalmente ambíguo. No poema de Bandeira, "só" pode referir-se a "poema" ("poema solitário", por exemplo) ou a "Jayme Ovalle" ("poema feito exclusivamente para Jayme Ovalle", por exemplo).
É importante também destacar o papel da pontuação. Compare a frase "Só você não conseguirá a resposta" com "Só, você não conseguirá a resposta". Parecem iguais. As palavras são as mesmas, a ordem das palavras é a mesma, mas a vírgula faz a diferença.
Na primeira, "só" significa "apenas"; na segunda, "sozinho/a".
Vale lembrar a expressão "a sós", invariável: "Quero ficar a sós"; "Queremos ficar a sós"; "Ele quer ficar a sós"; "Eles querem ficar a sós".
Não faça confusão. Quando "só" significa "sozinho/a", varia, ou seja, tem singular e plural. Quando significa "somente, apenas", não varia, não tem plural. E a expressão "a sós" é fixa, invariável.
Outros exemplos de frases ambíguas:
"Encontrei seu diretor e resolvemos fazer uma reunião em seu escritório às 15h."
(O escritório era da pessoa com quem se estava falando ou do chefe
dela?)
Ao saber que um sobrinho havia levado uma mordida, minha mulher perguntou: "Afinal, quem mordeu o Pedro?" A resposta foi imediata: "Foi a cachorra da namorada do João neurótica."
(Quem mordeu o Pedro foi:
1. a cachorra, que é neurótica e pertence à namorada do João?
2. a cachorra, que pertence à namorada neurótica do João?
3. a namorada do João, que, além de ser uma "cachorra", é uma
neurótica?
ANACOLUTO
Ruptura da ordem lógica da frase. É um recurso muito utilizado nos diálogos, que procuram reproduzir na escrita a língua falada. Também permite a caracterização de estados de confusão mental.
Exemplo
"Deixe-me ver... É necessário começar por... Não, não, o melhor é tentar novamente o que foi feito ontem."
ANÁFORA
Repetição sistemática de termos ou de estruturas sintáticas no princípio de diferentes frases ou de membros da mesma frase. É um recurso de ênfase e coesão.
Exemplo
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
(Manuel Bandeira)
ANTÍTESE
Aproximação de palavras de sentidos opostos.
Exemplos
Na ofuscante CLARIDADE daquela manhã, pensamentos SOMBRIOS o perturbavam. 

Balanço
A pobreza do eu
a opulência do mundo

A opulência do eu
a pobreza do mundo


Apobreza de tudo
a opulência de tudo


A incerteza de tudo
na certeza de nada.
Carlos Drummond de Andrade

ASSÍNDETO
É a coordenação de termos ou orações sem utilização de conectivo. Esse recurso costuma imprimir lentidão ao ritmo narrativo.
Exemplo
"Foi apanhar gravetos, trouxe do chiqueiro das cabras uma braçada de madeira meio ruída pelo cupim, arrancou touceiras de macambira, arrumou tudo para a fogueira."
(Graciliano Ramos)
ELIPSE
O omissão de um ou mais termos de uma oração, o qual se subentende, se presume.
Exemplos
Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para se plantar.
(Omissão do verbo HAVER)
Na memorável "Canto triste" (música de Edu Lobo e letra de Vinicius de Moraes), há um belo exemplo de elipse: "Onde a minha namorada? Vai e diz a ela as minhas penas e que eu peço, peço apenas que ela lembre as nossas horas de poesia...". No trecho "Onde a minha namorada?", está subentendido um verbo ("está", "anda" etc.). É bom lembrar que existe um caso específico de elipse, que alguns preferem chamar de "zeugma". Trata-se da omissão de termo já citado na frase. É o caso, por exemplo, de "Ele primeiro foi ao cinema, depois, ao teatro". Em "depois, ao teatro", não se repetiu a forma verbal "foi", expressa na primeira oração ("Ele primeiro foi ao cinema"). Há um caso específico de zeugma, que ocorre quando a palavra omitida tem flexão diferente da que se verifica no termo expresso anteriormente. É o caso, por exemplo, de "Eu trabalho com fatos; você, com boatos". Que palavra está subentendida? É a forma verbal "trabalha", flexionada na terceira pessoa do singular e deduzida de "trabalho", da primeira pessoa do singular do presente do indicativo de "trabalhar". Esse caso de zeugma é chamado por alguns de "zeugma complexa" (ou "zeugma complexo", já que, para alguns dicionários, a palavra "zeugma" é masculina, mas, para outros, feminina; há ainda os que a consideram palavra de dois gêneros, isto é, que pode ser usada indiferentemente no masculino ou no feminino).
EUFEMISMO
O Dicionário "Houaiss" diz que é "palavra, locução ou acepção mais agradável, de que se lança mão para suavizar ou minimizar (...) outra palavra, locução ou acepção menos agradável, mais grosseira...". O "Aurélio" diz que é "ato de suavizar a expressão duma idéia substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável, mais polida".
Exemplos
Ontem, Osvaldo partiu dessa pra melhor (em vez de "morreu")
Este trabalho poderia ser melhor (em vez de "está ruim").
Às vezes, a suavização é feita de um jeito todo particular: pela negação do contrário. Para que não se diga, por exemplo, que determinado indivíduo é burro, diz-se que é pouco inteligente, ou simplesmente que não é inteligente. Esse caso, que contém forte dose de ironia, chama-se "litotes". É bom que se diga que com a litotes não necessariamente se suaviza. Para que se diga que uma pessoa é inteligente, pode-se dizer que não é burra: "Seu primo não é nada burro". Em suma, a litotes é "modo de afirmação por meio da negação do contrário", como define o "Aurélio".
HIPÉRBOLE
É bom observar que no extremo oposto do eufemismo está a "hipérbole". Se com aquele suavizamos, atenuamos, abrandamos, com esta aumentamos, enfatizamos, exageramos.
Exemplos
Eu já disse um milhão de vezes que não fui eu quem fez isso!
Ela morreu de medo ao assistir aquele filme de suspense.
Hoje está um frio de rachar!
Aquela mãe derramou rios de lágrimas quando seu filho foi preso.
Não convide o João para sua festa, porque ele come até explodir!
Os atletas chegaram MORRENDO DE SEDE.
GRADAÇÃO
Consiste em encadear palavras cujos significados têm efeito cumulativo.
Exemplos
Os grandes projetos de colonização resultaram em pilhas de papéis velhos, restos de obras inacabadas, hectares de floresta devastada, milhares de famílias abandonadas à própria sorte. 
"Seu Irineu pisou no prego e esvaziou.Apanhou um resfriado,do resfriado passou à pneumnia,da pneumonia passou ao estado de coma e do estado de coma não passou mais.(...)
                                                           Stanislaw Ponte Preta
HIPÉRBATO
É a inversão da ordem natural das palavras.
Exemplo
"De tudo, ao meu amor serei atento antes" (ordem indireta ou inversa)
Em vez de "Serei atento ao meu amor antes de tudo" (ordem direta)
IRONIA
Consiste em, aproveitando-se do contexto, utilizar palavras que devem ser compreendidas no sentido oposto do que aparentam transmitir. É um poderoso instrumento para o sarcasmo.
Exemplo
Muito competente aquele candidato! Construiu viadutos que ligam nenhum lugar a lugar algum.
METÁFORA
Palavra empregada fora de seu sentido real, literal, denotativo.
Exemplos
Eliana não SE DOBROU às desculpas do namorado que a deixou esperando por uma hora.
Ontem à noite choveu CANIVETES!
Na base de toda metáfora está um processo comparativo:
Senti a seda do seu rosto em meus dedos.
(Seda, na frase acima, é uma metáfora. Por trás do uso dessa palavra para indicar uma pele extremamente agradável ao tato, há várias operações de comparação: a pele descrita é tão agradável ao tato quanto a seda; a pele descrita é uma verdadeira seda; a pele descrita pode ser chamada seda.)
METONÍMIA
Ocorre quando uma palavra é usada para designar alguma coisa com a qual mantém uma relação de proximidade ou posse.
Exemplos
Meus olhos estão tristes por que você decidiu partir.
(Olhos, na frase acima, é uma metonímia. Na verdade, essa palavra, que indica uma parte do ser humano, esta sendo usada para designar o ser humano completo.)

"Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu"


ONOMATOPÉIA
Emprego de palavras apropriadas na tentativa de se imitar o som de alguma coisa.
Exemplos
Não conseguia dormir com o TIC-TAC do relógio da sala.
"Lá vem o vaqueiro pelos atalhos, tangendo as reses para os currais. Blem... blem... blem... cantam os chocalhos dos tristes bodes patriarcais. E os guizos finos das ovelhinhas ternas dím... dím... dím... E o sino da igreja velha: bão... bão... bão..." (Ascenso Ferreira)
PERÍFRASE
Uso de um dos atributos de um ser ou coisa que servirá para indicá-lo.
Exemplos
Na floresta, todos sabem quem é o REI DOS ANIMAIS.
(REI DOS ANIMAIS = LEÃO)
A CIDADE MARAVILHOSA torce para um dia sediar os Jogos Olímpicos. (CIDADE MARAVILHOSA = RIO DE JANEIRO)
PLEONASMO
Repetição, no falar ou no escrever, de idéias ou palavras que tenham o mesmo sentido. É vício quando empregado por ignorância: Subir para cima; é figura quando consciente, para dar ênfase à expressão.
Exemplos
A MIM só me restou a esperança de dias melhores.
Casos de pleonasmos considerados estilísticos:
Camões, em "Os Lusíadas", escreveu "De ambos os dous a fronte coroada". (Esta frase está na ordem inversa. Na ordem direta seria "A fronte de ambos os dous coroada." E "dous" é uma forma, hoje em desuso, equivalente a "dois".
Observação: A palavra "ambos" é da mesma família das palavras "ambivalente", "ambidestro", "ambívio" ("encruzilhada"), "ambígeno" ("proveniente de duas espécies diversas") etc.
"Ver com os próprios olhos". É óbvio que ninguém vê com as orelhas, nem vê com os olhos de outra pessoa. Mas essa combinação é aceita justamente por ser considerada expressiva, sobretudo pela palavra "próprios": "Vi com meus próprios olhos."
Um outro bom exemplo de pleonasmo consagrado é "abismo sem fundo". Pouquíssimas pessoas sabem que, na origem, a palavra "abismo" significa "sem fundo". Ao pé da letra, "abismo" é "lugar sem fundo".
Quando se perde a noção da origem de uma palavra, é natural que ocorram ligeiras mudanças em seu significado, o que justifica certos pleonasmos, como o de "abismo sem fundo". Afinal, hoje em dia, o sentido corrente de "abismo" não é de "lugar sem fundo" e sim de "lugar muito fundo".
Convém lembrar que existe a forma paralela "abisso", hoje pouco usada. É dela que se forma o adjetivo "abissal". Apesar de o substantivo "abisso" estar fora de moda, o adjetivo "abissal" é mais usado que "abismal": "A ignorância dele é abissal/abismal." Ambas as formas são corretas e equivalentes.
POLISSEMIA
É a propriedade que tem a mesma palavra de assumir significados diferentes.
Exemplos
Lúcia bateu a porta. (fechou)
Roberto bateu o carro. (trombou)
Meu coração bate rápido. (pulsa)
Em uma propaganda da Bradesco Seguros de automóveis vemos, na foto, um pincel de barbeiro, usado para espalhar o creme de barbear no rosto do cliente, e a legenda: "Esta cidade está cheia de barbeiros" (alusão aos maus motoristas)
POLISSÍNDETO
É o uso repetido da conjunção (do conectivo), entre elementos coordenados. Esse recurso costuma acelerar o ritmo narrativo.
Exemplos
"O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora."
(Machado de Assis)
"No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego
Trabalhe, e teima, e lima, e sofre, e sua!"
(Olavo Bilac)
PROSOPOPÉIA ou PERSONIFICAÇÃO
Consiste em atribuir características de seres animados a seres inanimados ou características humanas a seres não-humanos.
Exemplos
"A floresta gesticulava nervosamente diante do lago que a devorava. O ipê acenava- lhe brandamente, chamando-o para casa."
As estrelas sorriem quando você também sorri.
SILEPSE
Figura pela qual a concordância das palavras se faz de acordo com o sentido, e não segundo as regras da sintaxe. A Silepse pode ser de pessoa, número ou gênero.
Exemplos
"Os brasileiros somos roubados todos os dias." Quem diz ou escreve a frase dessa forma põe o verbo na primeira pessoa do plural para deixar claro que é brasileiro e é roubado. Nessa frase, por exemplo, a concordância não foi feita com "os brasileiros", mas com o sentido, com a idéia que se quer enfatizar. É claro que teria sido possível empregar a forma "são" ("Os brasileiros são roubados..."), no entanto, o enfoque mudaria completamente.
No exemplo anterior, ocorre silepse de pessoa, já que se trocou a terceira pessoa pela primeira. A de número ocorre quando se troca o singular pelo plural (ou vice-versa), como se vê neste exemplo: "A turma chegou cedo, mas, depois que foi dado o aviso de que o professor se atrasaria, desistiram de esperar e foram embora". Nessa frase, as formas verbais "desistiram" e "foram" se referem ao termo "turma", mas não concordam com a forma dessa palavra (singular), e sim com a idéia contida em seu significado ("alunos", no caso). A silepse de número é comum com o vocativo representado por coletivo, seguido de verbo no plural: "Turma, turma, venham". De novo, o verbo ("venham") não concorda com a palavra "turma", mas com sua idéia.
A silepse é de gênero quando se troca o masculino pelo feminino (ou vice-versa). Em "São Paulo está assustadíssima com a brutalidade", exemplo clássico, o adjetivo "assustadíssima", no feminino, não concorda com "São Paulo", nome de santo, masculino, mas com "cidade", palavra que não foi dita ou escrita. O mesmo processo se dá quando se diz "Porto Alegre é linda". "Porto" é palavra masculina, mas a concordância de "linda" também se dá com "cidade". Em certos casos, ocorrem, simultaneamente, a silepse de gênero e a de número, como se vê neste exemplo, transcrito do "Dicionário Houaiss": "Que será de nós, com a bandidagem podendo andar soltos por aí". Na frase, o adjetivo "soltos" não concorda com a forma singular e feminina da palavra "bandidagem", mas com sua idéia ("os bandidos").
Observação
É bom lembrar que a Silepse também é chamada de "concordância ideológica".
SINESTESIA
A proximação de sensações diferentes.
Exemplos
Naquele momento, sentiu um CHEIRO VERMELHO de ódio.
(CHEIRO, olfato - VERMELHO, visão)


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